Sabem aquelas raparigas da escola que quando o professor de Educação Física vira costas se encostam à parede mais próxima a descansar? Aquelas que gostam mais de falar do que correr? Era eu! Tal e qual! Só aos 30 anos descobri o desporto. Vou contar-vos a minha história e espero que inspire outras pessoas a mudar de atitude.
Sempre fui magra e, portanto, nunca me senti mal no meu corpo quando me olhava ao espelho. Como qualquer rapariga tinha e tenho alguns complexos, mas nunca tive o problema de ter peso a mais. Mas a partir dos 27 anos comecei a engordar em duas zonas críticas para todas as mulheres: ancas e barriga. E cada vez menos gostava daquilo que via. Mentalizei-me que tinha de fazer exercício físico porque além destas gordurinhas a mais, também me sentia como uma porta velha que range quando se abre e, subir até ao 3º andar de um prédio era como correr uma maratona. Frequentei aulas de grupos daquelas modalidades da moda, mas não senti diferenças, já para não falar da preguiça de ir às aulas depois de um dia de trabalho, ou porque estava frio, ou calor…enfim, havia sempre coisas mais importantes para fazer. Não havia foco, entendem? Portanto, qualquer modalidade que tentasse praticar não ia resultar. Até que, depois de um ano em casa e desempregada, além do estado físico, o estado mental começou a ceder e aí tive de travar a fundo. Comecei então com treino funcional. Sós vos digo, depois da primeira aula andei 15 dias para me sentar na sanita! Juro. E o conceito de sentar passou a ser atirar-me para cima de alguma coisa sem não mexer um único músculo. Tal como descer ou subir escadas que passaram a representar momentos de autotortura. Acho que até o ar à minha volta me doía… Mas, ao mesmo tempo pensei: se os outros conseguem, eu também vou conseguir. E assim foi. Depois de três meses comecei a ver resultados e isso é que me motivou a querer mais e mais.
A corrida surgiu depois por influência do meu namorado que me incentivou a tentar. Sim, a tentar. No primeiro dia corri 500 metros e andei para morrer. O resto do percurso fiz a andar. Que se lixe…não tenho resistência nenhuma e porquê? Porque nas aulas de Educação Física não mexia uma palha e depois da escola também não. Sabem aquele cansaço bom depois de correr? Não, não sabia o que era. Aquelas dores nos músculos que toda a gente fit diz que sabem bem? – o quê? Há dores que sabem bem? What?
Tudo tem um começo e depois de correr 500 metros, consegui chegar aos 700 (e não estou a exagerar, ok? Foi exatamente assim) Meses mais tarde consegui fazer uns dois, três quilómetros, mas não totalmente a correr. Ia andando e correndo. Até que surgiu a minha primeira minimaratona – história completa neste post. A partir daí, não mais parei até hoje. Se tudo começou com uma questão de autoestima, hoje é muito mais que isso. É superação pessoal, é autoconhecimento, é sofrimento, é satisfação. É sentir-me viva e que sou capaz de enfrentar qualquer obstáculo, basta fazer por isso! Somos nós que decidimos como viver as mudanças. Hoje, sim, sei o que é dor que sabe bem, cansaço bom e bolhas nos pés a toda a hora! E levantar-me ao domingo de manhã para fazer provas de 10k? Ah, pois, é! Por isso, faça chuva, faça frio, faça sol ou calor arrasto o esqueleto para ir correr. Há objetivos, há conquistas que quero alcançar. Este é o meu mantra: estar menos lontra, ficar sem buracos nas nádegas e coxas, conseguir empinar o rabo para cima, ter mais mobilidade - porque uma pessoa já não vai para nova - suar que nem uma porquinha e a seguir sentir que posso comer todas as batatas fritas que quiser (sentir só, ok?) e, de vez em quando alcançar um pódio, de preferência com prémio monetário para a seguir ir gastar em gelados!