A internet falhou, há uma máquina de roupa para estender, o café acabou e o almoço ainda não está feito. Entretanto, está a decorrer uma aula de educação física no quarto ao lado do escritório via zoom.
Por estes dias este é um exemplo de episódios da vida conjugal e familiar da maioria das nossas casas. Em algumas acresce ainda os filhos com aulas e os filhos mais pequenos sem creche ou pré-escolar.
Há um ano atrás estávamos a experimentar o modelo de teletrabalho. Novidade para a grande maioria de nós, é para uma pequena minoria uma rotina quotidiana.
Passados meses, aquilo que parecia ser temporário, passou a ser a realidade.
A pandemia exigiu uma grande capacidade de adaptação, novos comportamentos, novas regras, com grande impacto no nosso dia-a-dia. É natural que nos possamos sentir menos motivados para trabalhar, sobretudo sentimos falta de convívio social. Estamos todos cansados e saturados desta situação. Um estudo recente da Organização Geral de Saúde revela que 60% da população mundial está “cansada” da pandemia. Já vos aconteceu parar para pensar: mas afinal a que horas fecha o supermercado ou será que podemos fazer isto ou aquilo? Coisas simples que tidas como adquiridas.
Será que o teletrabalho dominará o mundo um dia?
Não é fácil perspetivar o futuro, mas a curto-prazo, o teletrabalho veio para ficar. Para que o trabalho a partir de casa possa ser produtivo e eficiente é importante manter o equilíbrio e o bem-estar. Aquilo que sentimos como Bem-Estar é diferente para cada um de nós e mesmo diferente em nós em diferentes momentos da nossa vida. Nesta altura que vivemos atualmente é ainda mais importante cuidarmos de nós, pois se estivermos bem, estamos mais confiantes e somos mais produtivos.
Temos de descomplicar o teletrabalho e não o encarar como um problema.
Obviamente que não podemos generalizar a todas as profissões, mas sempre defendi um regime misto entre trabalhar remota e presencialmente. Sou muito mais criativa, não perco tempo nas deslocações (apesar de poder ir a pé, mas não é a mesma coisa acabar de trabalhar e estar logo em casa ou vice-versa, ou seja, o tempo de produção é mais rentável) e consigo conciliar melhor a vida profissional e a vida familiar.
Novas rotinas explicadas em cinco passos
Claro que existem desvantagens no teletrabalho, como estarmos mais isolados, comermos mais porque temos a cozinha mais acessível ou não conseguirmos desligar completamente do trabalho, mas tudo se resolve. Para trabalharmos melhor, partilho algumas estratégias que eu adotei a partir dos conselhos da Ordem dos Psicólogos e da Direção Geral de Saúde sobre como nos adaptarmos a esta nova realidade em que o trabalho invadiu a nossa casa:
1.Defini uma zona de trabalho: seja na sala, no quarto, na cozinha, é importante sabermos que quando estamos naquele local é como se estivéssemos no nosso local de trabalho tradicional. Se for um espaço partilhado temos de respeitar os outros, tal como no nosso local de trabalho em que temos colegas à nossa volta. No meu caso, tenho uma divisão definida como home office, onde consigo ter uma secretária minimamente arrumada, pouco ruído, temperatura confortável e janela para possibilitar iluminação natural, mas pouco sinal de internet! Não podemos ter tudo!
2.Re)organizei o tempo de trabalho: ainda que as horas possam ser mais flexíveis, é importante definir horários para trabalhar, para fazer pausas e para comer. A zona neutra é a cozinha e o sofá junto à lareira para fazer as refeições e as pausas ao longo do dia. Assim como o vestuário (tirar o pijama) e as horas de sono são tarefas vitais para o equilíbrio pessoal. Planeio a rotina das tarefas domésticas como se não estivesse em casa, não estendo a roupa enquanto tenho uma reunião para preparar ou saio a meio de um texto para ir fazer o almoço. Claro que é mais fácil gerir, mas aproveito para fazer uma pausa enquanto vou despejar o lixo ou ligar o forno para o almoço.
3.Faço escolhas saudáveis: a palavra chave é equilíbrio. Agora mais do que nunca é importante escolher aquilo que comemos, alimentos variados, beber muita água, são aspetos essenciais à saúde e ao bem-estar físico e mental. Esta é uma boa oportunidade para quem sempre quis dar esse passo. Fazer desporto regular e manter (ou tentar) bons hábitos de sono. A prática de exercício físico ajuda a manter-nos fisicamente ativos, evita o sedentarismo e favorece o bem-estar mental.
4.Escolho atividades que gostamos de fazer fora do tempo de trabalho e possíveis de realizar neste contexto de pandemia como ler, pintar, dançar, ouvir música, fazer uma caminhada ou começar uma atividade online. Valorizar pequenos prazeres como apanhar sol na varanda ou beber um chocolate quente à lareira!
5.Alimento relações positivas com família e amigos, através de videochamada, por exemplo, para manter o contato social possível.
Após tantos meses a viver com limitações, sacrifícios e incerteza, é natural que nos sintamos cansados e fartos desta situação. Emoções negativas como tristeza, preocupação, ansiedade, desmotivação são normais e se forem persistentes devemos pedir ajuda. Há estimativas que preveem que entre 20% a 30% das pessoas sofram com o impacto psicológico da pandemia.
Não é fácil antecipar o futuro e lidar com as alterações frequentes das orientações das autoridades de saúde. Não é fácil lidar com a disseminação de informação falsa, contraditória e sem fundamento científico. É preciso relativizar: sair da nossa perspetiva, colocar-nos do lado de fora e fazer a questão a nós próprios: o que é que podemos controlar? Depende de nós?
Às vezes, é mais fácil desligar!