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Diário de uma Alquimista

blog pessoal de andreia gonçalves

Diário de uma Alquimista

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03 de Janeiro, 2022

Como a corrida pode contribuir para o autocuidado

Cuidar de nós próprios é sempre muito importante para mantermos uma boa saúde, tanto física como men

Andreia Gonçalves

Cuidar de nós próprios é sempre muito importante para mantermos uma boa saúde, tanto física como mental. Cada um de nós encontrará estratégias diferentes para promover o seu próprio bem-estar, mas todas contribuem para um objetivo em comum: o autocuidado.

Autocuidado

O autocuidado é definido como um conjunto de ações diárias que cada um de nós pratica em prol da vida, da saúde e do bem-estar.

Com a correria do quotidiano, sempre preocupados com os outros, sempre dispostos a ajudar o próximo sempre que ele precisa, muitas vezes esquecemo-nos de cuidar de alguém muito mais importante: nós mesmos! Todos nós precisamos de tempo para entender as nossas necessidades e desejos.

Autocuidado não é egoísmo. O autocuidado é cuidar de nós com foco no nosso bem-estar, enquanto que egoísmo é colocar os interesses próprios e opiniões em primeiro lugar, em detrimento dos outros. São conceitos bastante diferentes.

A partir do momento em que criamos hábitos rotineiros de autocuidado, conseguimos melhorar a nossa saúde física, emocional, social e mental. Eu acredito que esta é a base para um estilo de vida saudável.

O autocuidado assenta em 4 pilares fundamentais - físico, emocional, social e espiritual ou mental – que não são estanques e, na minha opinião, têm de estar em equilíbrio.

AUTOCUIDADO FÍSICO

O autocuidado físico está relacionado com o cuidado com o corpo e inclui a importância de ter uma alimentação saudável, fazer exercício físico e dormir bem.

Existem diversos programas oficiais sobre alimentação saudável centradas na problemática da obesidade da população e as suas consequências na saúde física. Há mais de uma década que a Comissão Europeia criou o Dia Europeu da Alimentação e da Cozinha Saudáveis que se assinala a 8 de novembro. Também a Direção Geral da Saúde criou um Programa Nacional para a promoção da alimentação saudável, cujo objetivo principal é aumentar o conhecimento sobre os consumos alimentares da população portuguesa, seus determinantes e consequências. Um consumo alimentar adequado e a consequente melhoria do estado nutricional tem um impacto direto na prevenção e controlo de doenças.

Comer e a escolha dos alimentos que ingerimos estão relacionados com a saúde e com a felicidade e não podem ser separadas. Cuidar de nós significa cuidar de dentro para fora: se nos alimentarmos bem isso reflete-se no nosso bem-estar geral, na nossa felicidade, na maneira de encarar a vida. Isto significa que parte da nossa felicidade depende das nossas escolhas alimentares.  Devemos ser livres de escolher aquilo que queremos comer, ainda que tenhamos uma noção daquilo que precisamos comer e de quais os alimentos que nos fazem bem.

Existe uma relação estabelecida entre a prática regular de exercícios e a capacidade de seguir uma dieta saudável. A teoria sugere que, se praticarmos exercício físico todos os dias temos uma maior capacidade de tomar decisões mais saudáveis, como manter uma dieta mais equilibrada.

Também já não é novidade para ninguém que manter hábitos de exercício físico regular tem um potencial enorme para melhorar nossa saúde física e mental – contribui para melhorar o sono, reduzir o stress, a ansiedade e a depressão, promover a perda de peso e diminuir o risco de doenças crónicas como a diabetes ou cancro.

O exercício regular e consistente melhora significativamente a saúde do cérebro, melhorando a nossa memória, concentração, força de vontade e capacidade de aprender. É a força dos hábitos: basta reparar em exemplos simples do dia a dia, sempre que entramos no carro colocamos o cinto de segurança sem pensar, tal como acontece com a prática desportiva, que com o tempo torna-se automática. Além disso, o exercício físico melhora significativamente o humor, combate a apatia e a depressão – a superação do esforço é revigorante – a corrida ajuda a substituir os padrões de pensamentos negativos por outros como “eu consigo”.

É tão importante praticar exercício físico de forma regular como descansar. Dormir bem é essencial para o bem-estar, físico e mental. É essencial repor as energias perdidas diariamente. No trabalho e nas restantes atividades diárias despendemos força física e mental e, para estar bem, é preciso repor essas energias. Não esquecer que descansar não se resume a simplesmente dormir 6 a 8 horas por noite. A qualidade do sono é também importante para nos sentirmos renovados, mas também precisamos fazer pausas quando estamos acordados.

E para quem tem objetivos desportivos, é importante dar aos nossos músculos uma pausa, assim como à nossa mente para nos prepararmos para o treino seguinte. “A verdadeira transformação do seu corpo acontece durante o sono e durante o repouso - certifique-se de dar ao seu corpo o que ele precisa para ver resultados reais”, de acordo com os especialistas da Runstatic.

AUTOCUIDADO EMOCIONAL

O psicólogo Daniel Goleman foca-se no autoconhecimento e na inteligência emocional como motores para a excelência. Este é outro dos pilares do autocuidado que promove a saúde emocional. Gerir com inteligência todas as nossas emoções e sentimentos que existem dentro de nós, pois são as emoções que guiam o nosso pensamento, mas que podem facilmente desgovernar-se e fazem-no com frequência. Nem sempre assumimos que a negatividade está em nós, é mais fácil dizer que são os outros: “por vezes, negamos a responsabilidade pela negatividade que nós próprios colocamos no mundo, mas esta nem sempre tem origem nos outros (…) é mais fácil culpar aqueles que estão à nossa volta pela cultura da negatividade, mas purificar os nossos pensamentos irá proteger-nos da influência dos outros”, afirma Jay Shetty.

Isto não quer dizer que devemos apagar completamente sentimentos negativos, mas antes aprender o que fazer com eles – a autoconsciência. A solução é identificar esses pensamentos e enfrentá-los. Ao invés de reagir, aprender a silenciar, criando espaço para pensamentos e ações que nos enriquecem em vez de nos consumirem – só assim seremos livres, pois liberdade não é dizermos tudo aquilo que queremos, “a verdadeira liberdade é não sentir a necessidade de o dizer”. Ter consciência de nós e colocar-nos no lugar do outro e usar as nossas palavras com um propósito.  Este é um dos passos para promovermos uma boa saúde emocional.

“Quanto menos tempo dedicarmos aos outros, mais tempo terá para se dedicar a si mesmo”

Isto é um processo bastante complexo e que não se alcança de um dia para o outro. É um caminho longo que estou a percorrer. Resta-nos guardar aqueles que nos fazem falta e deixar o resto ir.   

AUTOCUIDADO ESPIRITUAL

Existem muitas maneiras de conceituar a espiritualidade, pois significa coisas diferentes para pessoas diferentes. Cultivar a paz, o amor próprio e encontrar um propósito de vida são essenciais para uma mente saudável.

Todos precisamos de ter um momento a sós para nos conectarmos connosco, para nos ouvirmos e refletirmos sobre o mundo que nos rodeia, seja através da meditação, de uma ida ao spa, da religião, conexão com a natureza ou de outro método qualquer, desde que seja uma atividade prazerosa. Autocuidado significa também ter uma rotina de introspeção de encontro connosco próprios através de algo em que acreditamos e que nos faz bem.

AUTOCUIDADO SOCIAL

O sere humano é um sere social. A socialização pode ter um impacto significativo na sua saúde mental, emocional e até física. Alimentar a nossa rede de relacionamentos e cultivar a relação com as pessoas que existem na nossa vida e nos querem bem.

Ligar aquela amiga que não vemos há tanto tempo, sair com o namorado ou marido para ir ao cinema, passar bons momentos com quem gostamos e construir memórias são atitudes essenciais para o autocuidado do ponto de vista social.

POR QUE É DIFÍCIL COLOCAR O AUTOCUIDADO EM PRÁTICA?

É mais fácil justificar que estamos ocupados e que não temos tempo do que aceitarmos que precisamos parar e pensar com carinho em nós mesmos. 

O QUE NÃO É AUTOCUIDADO?

Quando fazemos algo apenas por obrigação, sem motivação, algo que suga a nossa energia.

Por que é importante dizer não?

Quantas vezes deixamos de lado aquele tempo que tínhamos reservado para nós, como ir ao centro comercial, ler um livro, ir ao treino ou descansar simplesmente no sofá para encaixar um pedido de outra pessoa? Dizer que não é das coisas mais difíceis para a grande maioria de nós, verdade? Temos medo de ser mal-educadas, mal interpretadas ou mal-agradecidas e acabamos sempre por ceder.

Dizer não é saber impor limites e fazer com que os outros nos valorizem. Da próxima vez, lembra-te que estas a deixar o teu bem-estar para segundo lugar.

O SIGNIFICADO DA MINHA CORRIDA

As minhas primeiras três décadas de vida foram alapadas no sofá e só de pensar em calçar uns ténis já me sentia cansada. Depois de casar com um professor de educação física e sofrer de uma espécie de bullying fofinho (hoje acho que era fofinho) não tive outro remédio se não ceder…se não os consegues vencer, junta-te a eles, right? Basicamente, desde que comecei a namorar com o meu marido, ele sempre me massacrou com a história de que o desporto é saúde, blá, blá, blá. Antes dos 30 sempre que esta conversa começava lá ia eu comer um pacote de batatas fritas que era o melhor que eu fazia.

Mas a idade não perdoa e a gravidade também não. Já tinha uma alimentação cuidada, variada e equilibrada, ou pelo menos tentava de uma forma intuitiva, mas não castradora, pois também não acredito que ter uma alimentação saudável é viver refém de um regime alimentar.

Os meus rituais para um estilo de vida saudável começaram precisamente na alimentação. Claro que me inscrevi em 947828281 aulas de fitness, claro que ao fim de dois meses começava a baldar-me até desistir. Ainda não tinha chegado o momento certo.

A minha relação com o desporto, tal como com a alimentação, foi assim que começou. E além do bem-estar físico, da saúde e de todos os benefícios conhecidos, a corrida trouxe-me muito mais do que isso.

Atualmente olho para trás e posso dizer-vos que encontrei na corrida o meu autocuidado em todos os estados:

Físico: aprendi a cuidar de mim de dentro para fora. A minha alimentação reflete-se não só no rendimento na corrida, mas na minha pele e no meu humor e no meu estado de espírito. A corrida é vital não apenas para o meu bem-estar corporal, mas também para libertar o stress.

Emocional: a corrida também me ajuda a exercitar a mente, estimula o meu pensamento crítico e a minha criatividade – as melhores ideias surgem quase sempre durante um treino (são muitas as vezes que paro e aponto no telemóvel ideias para não me esquecer!). depois de um treino sinto-me renovada, a minha mente está revigorada, ao contrário daquilo que pensava inicialmente – que iria estar demasiado cansada para pensar sequer!

A superação do esforço é revigorante. O progresso acontece fora da nossa zona de conforto, independentemente do tipo de pessoa que sejamos ou da nossa condição física. É através do esforço e da dedicação que atingimos a mudança verdadeira, muito mais importante que os resultados rápidos. 

Posso dizer que o benefício mais imediato que a corrida me trouxe foi a autoestima. O facto de perder volume sobretudo na barriga, voltar a sentir-me bem com determinadas peças de roupa que tinha vergonha de usar ou o facto de conseguir correr (uma coisa que nunca imaginei na vida), isso deu-me autoestima e mais confiança em mim.

A longo prazo têm sido os resultados que nunca pensei alcançar. Aquela menina que corria 100 metros e se atirava para o chão hoje consegue correr 14 quilómetros sem parar! Se no início os objetivos eram físicos, hoje em dia os objetivos são de performance. E isso trabalha-se todos os dias para se conseguir atingir!  

A corrida ensinou-me muitas coisas que tento aplicar na minha vida. Traçar objetivos e a determinar uma estratégia para os conseguir alcançar, que se baseia em disciplina, esforço, trabalho diário e sobretudo foco. Também me ensinou a saber esperar e a confiar no treino mesmo que nos pareça que não estamos a evoluir. E não pensem que muitas vezes não penso em desistir, que acabo um treino a dizer que não sirvo para correr, que não consigo. Acontece muitas vezes! Aprendi a lidar melhor com a frustração, com o fracasso, com a desilusão e aprendi sobretudo a celebrar mais as pequenas vitórias diárias e a dar mais valor às pessoas que me rodeiam e que acreditam em mim.

Quando estamos focados, conseguimos ser tudo aquilo que desejamos! O resto vem com o tempo! Eu chego lá! Ainda tenho um longo caminho pela frente, ainda tenho muito que aprender, errar, recuar e recomeçar. Hoje consigo correr 14 quilómetros sem parar, apesar de não ser num tempo fantástico, mas consigo. Esse mérito ninguém mo tira.

Uma das coisas que mais me mudou foi o acordar cedo e acordar cedo para ir correr. Acordar às 6 horas da manhã num domingo, muitas vezes ainda de noite ou a fazer frio (já cheguei a ir para uma prova e estar tudo cheio de neve!) não posso dizer que é a coisa melhor do mundo. Mas depois comecei a aperceber-me que o domingo é um dia muito maior! Ou em pleno verão com temperaturas acima dos 35ºgraus em que a única altura em que era possível treinar é às 6h/7h antes de ir trabalhar, era outra das coisas que nunca pensei ser possível. E tenho de dar razão às pessoas que sempre diziam que fazer desporto antes de ir trabalhar era motivante!

Social: com a corrida aprendi a escolher fazer coisas com pessoas que realmente nos fazem bem. Fiz novos amigos e o espírito das provas é brutal. Correr pode ser solitário, mas as pessoas que estão em prova apoiam-se umas às outras, há sempre uma palavra de incentivo de quem passa por nós, arranjamos “boleia” de outros para nos motivar. Não há nada melhor do que cruzar uma meta e sentir o calor dos aplausos de quem está a assistir!

 

Espiritual/mental: se meditar significar encontrarmo-nos connosco então descobri a minha forma de meditar: a corrida.

se meditar significar encontrarmo-nos connosco então descobri a minha forma de meditar: a corrida

A corrida para mim é terapêutica. Não faço meditação, nunca experimentei, mas também é uma prática que ainda não me conseguiu atrair. Quando pensamos em meditar, a nossa mente pensa em estar sentada no chão de pernas cruzadas, a ouvir tambores ou sons da natureza, incensos ou velas. Se calhar ate me fazia bem, não digo que não, acredito nos seus benefícios, simplesmente para mim não resulta. Estar quieta muito tempo não é para mim, sinto assim uns formigueiros, umas genicas e tenho de ir fazer coisas. Aliás, a coisa que me acalma os nervos quando estou stressada ou chateada é fazer limpezas e arrumações. Sou capaz de tirar tudo de um armário e organizar por cores e feitios. Manias.

As mudanças não acontecem de um dia para o outro. Não acredito em coisas impostas porque é meio caminho andado para correr mal. Se começamos algo de um dia para o outro vamos ter muito mais vontade de desistir do que iniciarmos com pequenas mudanças no dia-a-dia até ao dia em que mudamos por completo.

 

Será que sei cuidar de mim?

Costumo dizer muitas vezes: se não cuidar de mim, não vou conseguir cuidar dos outros.

A Ordem dos Psicólogos elaborou uma checklist* que serve para refletirmos sobre os nossos comportamentos de autocuidado (durante a pandemia ou outras alturas da sua vida).

Responde o mais sinceramente possível e com base na tua experiência pessoal. Os resultados desta checklist servem apenas para nos ajudar a tomar consciência e pensar sobre os nossos comportamentos de Autocuidado.