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Diário de uma Alquimista

blog pessoal de andreia gonçalves

Diário de uma Alquimista

blog pessoal de andreia gonçalves

24 de Maio, 2019

A minha primeira (mini) maratona

Andreia Gonçalves

O tema meia maratona de lisboa começou num almoço de amigos em agosto. Daquelas conversas macho-alfa “eu sou capaz de correr uma maratona com uma perna às costas e tu não”. Resultado: três eleitos, “os mais capazes”, a caminho da meia maratona de Lisboa. E eu, “o atrelado”. Naquela altura conseguia correr 5 quilómetros muito mal corridos, sempre desafiada pelo meu namorado que me “puxava” para fazer exercício. Achei que a minimaratona (com 8 km) era um bom começo e começar a correr em plena ponte Vasco da Gama, já era uma boa motivação!

Depois da inscrição, a motivação era diferente. Já me apetecia ir correr todos os dias, já me interessavam os resultados, o tipo de calçado (roupa e acessórios a combinar, claro), descobri conceitos como tipo de passada, comecei a seguir maratonistas no Instagram para me inspirar. Todo um mundo novo que emergia!

Chegados a outubro, o meu ar de tartaruga no deserto tinha melhorado e já me sentia capaz de fazer os 8 km. Moro a duas horas de lisboa, portanto o mais confortável seria ir na véspera para dormir bem e acordarmos descansados no domingo. Os planos foram pelo rio abaixo, ou melhor, o furacão Leslie esbandalhou os planos, porque na tarde anterior à prova comecei a receber avisos da organização com alterações da hora e do local da partida, mau tempo, chuva, vento e já não ia correr na ponte Vasco da Gama! Primeira hesitação.

Decidimos ir de manhã com receio de a prova ser cancelada e ir fazer a viagem em vão. Seis da manhã o despertador toca. Este foi o segundo momento de hesitação. Desistimos? Vamos? Só restávamos dois, pois nos dias anteriores os outros elementos desistiram. Parecia que o universo nos dizia para não avançar. Mas calma: então treinamos tanto, investimos tempo na preparação para desistir naquele momento? Nem pensar. Desafiámos o destino e lá fomos. Se me tivessem dito há uns seis meses que iria sair de casa às 6h40 da madrugada para fazer uma viagem de 220 km para ir correr, diria muito provavelmente a essa pessoa padecia de demência.

Chegados ao Parque das Nações cada um foi para o respetivo ponto de partida. Nunca me senti tão sozinha. A inexperiência, o nervosismo, a novidade, um misto de emoções que se apodera de nós que nem sei bem descrever em palavras. Tinha vontade de fazer xixi a toda a hora, tinha fome, tinha calor (porque fui muito vestida), estava com aquele frio na barriga. Uma experiência indiscritível e estava a vivê-la sozinha.

O momento entre o “tiro” de partida e o primeiro quilómetro passou em menos de nada. Depois do segundo e do terceiro já tudo é mais fácil, ou mais difícil, depende do ponto de vista. A partir daqui, pensei várias vezes em desistir, pensei várias vezes que não era capaz de fazer aquilo, que era maluca, revoltei-me comigo própria e só pensava porque me tinha metido nisto!!! Senti muita vontade de chorar e cerrei os dentes para não o fazer por vergonha. A cada quilómetro a vontade de desistir era maior.

A motivação estava lá, ali mesmo ao lado, bastou estar atenta para a encontrar. Vi um casal que corria lado a lado a empurrar um carrinho de bebé, vi uma mulher com mais de 60 anos com problemas físicos e lá estava a correr, vi grupos de amigos, vi amigos lado a lado a dar força àquele que parecia querer desistir: “respira bem, devagar, vai tu consegues, eu estou aqui!” Foi aí que imaginei o meu namorado a fazer o mesmo e continuei. Ainda o meu relógio mal tinha dado os 6 km vi ao fundo o primeiro ponto de abastecimento. A música e os primeiros aplausos dos desconhecidos souberam pela vida. Sabem aquelas pessoas que estão a aplaudir atletas num estádio ou à beira de uma estrada numa prova qualquer? Pensei tantas vezes: mas por que raio estamos aqui a bater palmas. Nem nos conhecem, estão tao concentrados que nem se apercebem. Isto é fazer figura de estúpido! Tudo mentira. Se soubessem o quanto é bom ouvir aquelas palavras de “força”, “está quase”, “vá la”. Acreditem é uma sensação anormal de apoio moral, faz-nos sentir importantes e que somos capazes. Esses gritos deram-me alento para finalizar a jornada.

Até à meta foi um tiro. Acelerei o ritmo, sentia-me viva e capaz, sentia-me feliz. Quando passei a meta fechei os olhos e agradeci à vida! O segredo é só um: foco! O resto vem com o tempo! Eu chego lá! Ainda tenho um longo caminho pela frente, ainda tenho muito que aprender, errar, recuar e recomeçar. Hoje estou nas vésperas de uma prova com 10 km e o medo de não conseguir acabar é o mesmo. Para quem corre ou para quem é atleta parece ridículo estar a dizer uma coisas destas.

Não estou confiante porque ainda sou uma tartaruga a correr no deserto porque perdi o foco durante o inverno. Aprendi a lição, fica o tema para outro post. Neste momento estou a lutar para o último lugar, mas em bom!

O meu objetivo é continuar a correr até que me fizer feliz! Siga #naoqueroseraultima #aultimamasembom