Sou veloz como uma tartaruga no deserto - 1ª parte
E tenho a resistência de um ovo no alcatrão debaixo de 50º graus. O dia da corrida tinha finalmente chegado. Mal eu sabia que ia ser a prova mais difícil que alguma vez tinha feito. Não era a primeira vez que corria 10 quilómetros. Mas era a primeira vez desde novembro de 2018. Com o inverno perdi o foco…não deixei o treino funcional, mas pendurei os ténis de corrida… porque ao final do dia já era noite, porque estava frio, porque estava a chover, sempre existiram desculpas. E agora estou a pagar essa fatura. Quando pensei que este ano ia tentar uma meia maratona, hoje sei que isso não vai acontecer. E a culpa é só minha. Ou definimos objetivos e somos fieis a eles ou então não há milagres. E é mais fácil atribuir as culpas aos fatores que nos são externos do que olhar para dentro de nós e perceber que somos nós os responsáveis por trilhar o nosso caminho.
Meti na cabeça que ia retomar as corridas, porque gosto e porque queria voltar a sentir-me bem a correr, pois já era um obstáculo que tinha conseguido ultrapassar e parar agora seria deitar todo esse esforço fora. Em março deste ano fui correr e só consegui fazer 3 quilómetros! Não era possível! Decidi então que tinha de ter treino disciplinado e que tendo dia e hora marcados não ia faltar. Assim foi. Comecei a treinar na equipa de atletismo do clube local em abril e mantive os treinos funcionais. Já me tinham desafiado a ingressar numa equipa de atletismo, mas achei que não era para mim, mas o que é certo é que resultou e voltei a treinar fielmente. A primeira prova a sério foi a VI Corrida das Cerejas, conhecida por ser exigente. Eu conheço o local e sabia que não ia ser fácil e estava cheia de medo de não conseguir correr. Nos dias de treino mal consegui correr por não conseguir controlar a respiração. Não ia participar para alcançar nenhum prémio (longe disso) muito menos ficar bem classificada. Como dizia nos dias que antecederam a prova: ia lutar pelo último lugar, mas em bom!
Não estava nada confiante. Tinha consciência da minha fraqueza, da distância, da exigência da prova e do calor que estava previsto. Tudo fatores que faziam esmorecer. Mas já estava inscrita, ia ser a minha primeira prova pela equipa. Não podia voltar atrás. Mal seria se não chegasse ao fim de três ou quatro horas à meta. Coincidência ou não (ainda estou para perceber) quando cheguei junto da equipa e o treinador me dá o dorsal que me tinha sido atribuído fiquei em choque: número 1! Bom, pelo menos este número 1 já ninguém me tirava. Lá no fundo acreditei que era um bom presságio e que ia conseguir fazer a prova, apesar de me terem dito minutos antes da partida que eu era a última pessoa que esperavam ver ali!